Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo: uma jornada psicanalítica pelos abismos da mente por: Carlos Conrado, psicanalista Dirigido por Sofia Rodrigues, Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo é um desses filmes intrigantes que nos convida a uma jornada multidimensional, testando os limites da mente com realidades que se entrelaçaram paralelamente. Evelyn Wang e o Inconsciente Evelyn, a protagonista, é uma imigrante chinesa sobrecarregada. Sua lavanderia à beira do fracasso é mais do que um negócio; é um microcosmo de sua própria alma. As roupas sujas e manchadas representam os segredos e conflitos que ela carrega consigo. Quando uma fenda no multiverso se abre, Evelyn se lança em uma aventura que transcende o espaço e o tempo. Essa fenda, como o próprio inconsciente, é um portal para outras dimensões. A Fenda no Multiverso e o Id O conceito freudiano do Id ganha vida nessa trama. A fenda é o desejo reprimido, os impulsos incontroláveis que emergem quando as barreiras conscientes são rompidas. Evelyn se depara com múltiplas versões de si mesma, cada uma representando desejos não realizados. Ela é como um sonhador que vaga por realidades alternativas, apresentando seus próprios abismos internos. Deirdre e o Superego Deirdre, auditora da Receita Federal, personifica o Superego. Ela impôs regras e julgamentos, questionando as ações de Evelyn. A tensão entre elas reflete o conflito entre o desejo (Id) e a moralidade (Superego). Deirdre é o eco da sociedade, uma voz que nos faz hesitar diante das escolhas. A Jornada de Evelyn e o Ego Evelyn, sozinha em sua busca para salvar o mundo, representa o Ego. Ela é a parte consciente que tenta equilibrar os impulsos internos. Cada realidade paralelamente é como um espelho que reflete diferentes aspectos de si mesma. Ela poderia ter sido uma pianista famosa, uma cientista renomada ou uma alpinista destemida. Essas vidas alternativas são como sonhos fragmentados, cada um revelando um aspecto diferente de sua identidade. A Infinitude de Possibilidades e o Inconsciente Coletivo Evelyn fica preso em uma infinidade de realidades. Isso nos lembra o conceito junguiano do Inconsciente Coletivo, onde arquétipos e símbolos são compartilhados por todos. As camadas invisíveis do mundo representam os estratos profundos da mente, onde medos e desejos se entrelaçam. Em última análise, Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo é uma viagem psicanalítica que nos leva além das fronteiras da realidade física. Nessa jornada, Evelyn enfrenta seus demônios internos, buscando a reconciliação consigo mesma e com o mundo. Como espectadores, somos convidados a explorar nossos próprios abismos, a enfrentar nossos conflitos internos e a buscar uma unidade em meio à multiplicidade. Carlos Conrado é psicanalista e apaixonado por filmes que desafiam a mente e a alma.
NAVEGANDO NO INCONSCIENTE
NAVEGANDO NO INCONSCIENTE Temos dentro de nós um oceano tempestuoso! Mesmo que tentemos aparentar serenidade absoluta, nossa mente desconhece a calmaria. O inconsciente se assemelha a um abismo profundo, um buraco negro onde facilmente nos perdemos. Não se trata apenas de um local inacessível à razão, mas sim de um reino intangível onde guardamos nossas emoções, memórias reprimidas, intuições e sensações mais íntimas. É imperativo reconhecer que o inconsciente possui autonomia sobre nós, estabelecendo uma comunicação constante com nossa consciência por meio de sonhos, atos falhos e outros meios peculiares. Nesse cenário caótico, uma batalha titânica se desenrola pelo domínio de nossa identidade, muitas vezes sem que sequer nos demos conta disso. O ser humano é composto por uma trindade interna: o Id, o Ego e o Superego. O Id representa nosso lado selvagem, aquele que celebra a exaltação de Baco, onde a regra é “faça o que tu queres, pois tudo é permitido”. Ele é a voz estridente do inconsciente, clamando por expressão. O Ego é o ponto de equilíbrio, o troféu cobiçado pelas forças antagônicas que lutam por seu domínio. Ele busca conciliar nossos desejos com as demandas da realidade. O Superego, por sua vez, é o ser divino que, movido por princípios morais e dogmas, busca nos privar de emoções e ações consideradas tóxicas. Para ele, que já alcançou a luz, essa é a purificação necessária. Autodenomina-se a própria Lei. Essas criaturas vagueiam pelo território do inconsciente, o verdadeiro deserto da realidade, onde encontramos o objeto essencial para a existência da Psicanálise e o conhecimento de nós mesmos. Como dizia o poeta, “Navegar é preciso”, e mergulhar nas profundezas do inconsciente é uma jornada ousada que nos permite desvendar os segredos da nossa identidade em relação ao mundo que nos rodeia. A verdade sobre quem realmente somos pode ser um enigma insolúvel, mas a filosofia nos convida a explorar essa questão com ousadia. “Conhece-te a ti mesmo”, como proclamou Sócrates, é um convite para uma busca constante, um chamado para abraçar a sabedoria, evitar a estagnação e expandir nossos horizontes. Através desse movimento audaz, nos surpreendemos com as maravilhas ocultas dentro de nós. Carlos Conrado