Desde a infância, o cinema sempre me encantou. É como se fosse um portal para os sonhos, uma abertura no tecido da realidade que nos leva para mundos desconhecidos. Porventura, é por isso que ainda gosto tanto de cinema quanto de psicanálise. Ambos exploraram o significado oculto e as camadas invisíveis da mente humana.
Dirigido por Sofia Rodrigues, Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo é um desses filmes intrigantes que nos convida a uma jornada multidimensional, testando os limites da mente com realidades que se entrelaçaram paralelamente.
Evelyn Wang e o Inconsciente
Evelyn, a protagonista, é uma imigrante chinesa sobrecarregada. Sua lavanderia à beira do fracasso é mais do que um negócio; é um microcosmo de sua própria alma. As roupas sujas e manchadas representam os segredos e conflitos que ela carrega consigo.
Quando uma fenda no multiverso se abre, Evelyn se lança em uma aventura que transcende o espaço e o tempo. Essa fenda, como o próprio inconsciente, é um portal para outras dimensões.
A Fenda no Multiverso e o Id
O conceito freudiano do Id ganha vida nessa trama. A fenda é o desejo reprimido, os impulsos incontroláveis que emergem quando as barreiras conscientes são rompidas. Evelyn se depara com múltiplas versões de si mesma, cada uma representando desejos não realizados. Ela é como um sonhador que vaga por realidades alternativas, apresentando seus próprios abismos internos.
Deirdre e o Superego
Deirdre, auditora da Receita Federal, personifica o Superego. Ela impôs regras e julgamentos, questionando as ações de Evelyn. A tensão entre elas reflete o conflito entre o desejo (Id) e a moralidade (Superego). Deirdre é o eco da sociedade, uma voz que nos faz hesitar diante das escolhas.
A Jornada de Evelyn e o Ego
Evelyn, sozinha em sua busca para salvar o mundo, representa o Ego. Ela é a parte consciente que tenta equilibrar os impulsos internos. Cada realidade paralelamente é como um espelho que reflete diferentes aspectos de si mesma. Ela poderia ter sido uma pianista famosa, uma cientista renomada ou uma alpinista destemida. Essas vidas alternativas são como sonhos fragmentados, cada um revelando um aspecto diferente de sua identidade.
A Infinitude de Possibilidades e o Inconsciente Coletivo
Evelyn fica preso em uma infinidade de realidades. Isso nos lembra o conceito junguiano do Inconsciente Coletivo, onde arquétipos e símbolos são compartilhados por todos. As camadas invisíveis do mundo representam os estratos profundos da mente, onde medos e desejos se entrelaçam.
Em última análise, Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo é uma viagem psicanalítica que nos leva além das fronteiras da realidade física. Nessa jornada, Evelyn enfrenta seus demônios internos, buscando a reconciliação consigo mesma e com o mundo. Como espectadores, somos convidados a explorar nossos próprios abismos, a enfrentar nossos conflitos internos e a buscar uma unidade em meio à multiplicidade.
Carlos Conrado é psicanalista e apaixonado por filmes que desafiam a mente e a alma.